quinta-feira, 23 de agosto de 2012

A outra face da história da FRELIMO (3)

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Escrito por Carlos   
Em princípio, depois de 1968, a estrutura da FRELIMO assemelhava-se em grande medida à organização de outros grupos dentro da CONCP. O órgão mais alto do partido é o Congresso, representando todos os membros, e que se reúne uma vez em cada quatro anos. O Congresso elege o Comité Central, que é o órgão de gestão corrente, e que se reúne semestralmente, enquanto que um Comité Executivo, eleito pelo Comité Central, reúne-se uma vez em cada dois meses ou duas semanas depois da sua convocação. O processo diário de tomada de decisões está nas mãos do Comité Político-Militar, eleito pelo Comité Executivo. Para além da sua eleição pelo Congresso, os membros do Comité Central são parcialmente indicados pelos órgãos provinciais. Trata-se de Conselhos Provinciais, que se reúnem uma vez em cada três anos, elegendo um Comité Provincial para a gestão corrente; um Conselho Distrital, que se reúne uma vez em cada dois anos, elegendo um Comité Distrital para a gestão do dia-a-dia; e, finalmente, um Conselho Local que se reúne anualmente, criando um Comité Local para se encarregar da gestão do dia-a-dia. A Presidência pode nomear membros para os Conselhos Locais, e embora os membros sejam também eleitos, a última decisão para este nível está nas mãos da Presidência.  No isolamento imposto pelas condições de uma guerra de guerrilha, esta estrutura representa meramente o ideal, enquanto que autarquias de guerrilha foram se desenvolvendo nas áreas controladas pela FRELIMO dentro de Moçambique. Este seria também um factor para futuras dissidências.
Mondlane tinha a visão de transformar a FRELIMO num partido verdadeiramente nacional, envolvendo todos os grupos tribais em Moçambique. Deliberadamente, ele procurou constituir uma liderança que envolvesse uma ampla representação de todos os principais grupos étnicos.  Não obstante, à medida que o partido ia crescendo em termos de números no Tanganyika, a maior percentagem dos seus novos recrutas era de makondes que atravessavam o Rio Rovuma para a Tanzânia. Os Makondes e os Nyanjas, uma outra tribo do norte de Moçambique, cedo tornaram-se nos principais elementos nas forças da FRELIMO. Mas isto também se viria a tornar num factor de desunião, uma vez que outras tribos, tais como os Macuas, inimigos tradicionais dos Makondes, recusavam juntar-se a eles.
A FRELIMO lançou a luta armada dentro de Moçambique até 25 de Setembro de 1964, dois anos após a sua formação, quando gerrilheiros treinados na Argélia e na República Árabe Unida (hoje Egipto) entraram em acção pela primeira vez. Este ataque poderá ter sido realizado de certo modo mais cedo do que tinha sido planeado, depois de um pequeno grupo rival dirigido por um antigo dirigente da MANU ter  lançado uma incursão dentro de Moçambique, matando um padre holandês e alguns moçambicanos que com ele se encontravam a caçar. Muitos membros do grupo, incluindo o líder, viriam a ser perseguidos e mortos pelas tropas portuguesas.
No início, a estratégia militar da FRELIMO visava alvos portugueses nos distritos de Cabo Delgado e Niassa, junto à fronteira com a Tanzania, e uma segunda frente no distrito de Tete, junto à fronteira com o Malawi, Zâmbia e Rodésia, mas a falta de uma base popular e de uma logística adequada nesta área obrigou a FRELIMO a retirar as suas forças e concentrar-se sobre Cabo Delgado. Aqui, os guerrilheiros concentraram as suas actividades em ataques rápidos, fazendo-se proteger do remoto planalto dos Makondes, mas a hostilidade dos Macuas para com os Makondes inviablizou o alargamento das operações para mais do que cerca de 150 quilómetros a sul de Cabo Delgado. Por volta de 1965, as operações militares haviam-se espalhado para o Distrito do Niassa, onde as forças da FRELIMO eram constituídas maioritáriamente por indivíduos da tribo Nyanja, extendendo-se às margens do Lago Niassa. Em ambos os casos, os portugueses tentaram reagrupar as populações em locais estratégicos nas aldeias protegidas. Como os Nyanjas existem tanto em Moçambique como no Malawi, apesar da reluctância do governo do Presidente Hastings K. Banda, os guerrilheiros da FRELIMO chegaram mesmo a operar por algum tempo a partir do território do Malawi. Finalmente, por volta de 1968, a FRELIMO conseguiu abrir a sua frente no Distrito de Tete, com o objectivo, como diria o seu novo Presidente e comandante militar, Samora Moisés Machel, de inviabilizar a construção da gigantesca barragem de Cahora Bassa. ‘Se eles (os portugueses) alcançarem o seu objectivo’ disse Machel, ‘eles terão um triunfo político de magnitude internacional, porque isso significará que os portugueses ainda controlam Moçambique, que a luta armada não existe, que os guerrilheiros não estão ainda consolidados, e que o que nós dissemos não é nada mais que propaganda’.
Infelizmente, a FRELIMO tem tido um mau desempenho de reivindicações militares exageradas. Não que os militares portugueses sejam mais honestos — embora eles sejam mais cautelosos que os porta-vozes da FRELIMO, que sistematicamente inflaccionam os números de soldados inimigos feridos e mortos, e estimativas do tamanho de zonas consideradas libertadas ou ‘semi-libertadas’. Tão recentemente como Outubro de 1967, O Combatente, órgão do movimento rival, o Comité Revolucionário de Moçambique, ridicularizou as reivindicações da FRELIMO de que havia liquidado ‘mais de 5 000 soldados portugueses, destruído cerca de 300 viaturas militares, abatido 22 aviões, destruído vários postos e campos militares e sabotado várias estradas e pontes’ em três anos de combate. Com o tempo, os pomposos ‘Comunicados de Guerra’ emitidos pela sede da FRELIMO em Dar-es-Salaam passaram a ser encarados com cepticismo e muitas vezes como uma grande piada. De entre os que se sentiam embaraçados por tal estupidez estavam os instrutores militares cubanos, chineses e da Europa do Leste que treinavam forças da FRELIMO nos campos do movimento na Tanzania. Mesmo assim, num discuso perante membros do Instituto Real das Relações Internacionais e do Instituto das Relações Raciais, o Dr. Mondlane chegou ele próprio a reivindicar que a FRELIMO controlava ‘um quinto do total do território de Moçambique, com uma população estimada em cerca de 1 milhão dos 7 milhões de habitantes de Moçambique’. Isto representaria uma área do tamanho de Portugal, com uma população igual à do Lesotho. Ao mesmo tempo, a FRELIMO não conseguia abrir esta área à inspecção do Comité de Libertação da Organização da Unidade Africana, ou repatriar para estas ‘zonas libertadas’ os 35 mil refugiados Moçambicanos que recebiam apoio do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. (Continua)
 

1 comentário:

Anónimo disse...

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