quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Comentários do Dr. A.D.Zengazenga a "Vivemos a primeira guerra civil?", de Mia Couto

0 Sr. Mia Couto, no seu trabalho de 13.08.2010 afirmou entre outras coisas não menos importantes:"A guerra com a Renamo não foi exactamente uma “guer­ra civil".Foi um conflito importado de fora, em que forças militarizadas ele­geram quase sempre alvos civis, escolhidos sem claro critério político ou ideológico. Hoje, pela primeira vez, grupos civis atacam sistematicamente não apenas outros civis, mas, sobretudo, quem no exercício da autoridade, pretende consolidar uma sociedade regida pela justiça e pela transparência. Esta É uma guerra civil. Silenciosa. Mas mortal".
É com muito respeito e tranquilidade que me lanço nesta arena de gladia­dores, embora não signifique de nenhum modo que vou deixar ilesas as afirma­ções deste ilustre literato.
A Frelimo é um partido de segredistas. Basta ver o que aconteceu com os inquéritos que a Polícia Tanzaniana e Scotland Yard fizeram sobre a morte de Eduardo Mondlane. Os resultados nunca foram publicados. Por conseguinte, é em vão esperar que as perguntas do Sr. Mia Couto serão devidamente res­pondidas. Os criminosos continuarão a operar incolumemente em proveito dos envolvidos, em prejuízo do Estado, que o Sr. Mia Couto chama de Direito, que é Moçambique.
Em Moçambique o cabritismo não acabou. Existe em forma bem rígida, secre­ta e nos escalões do Estado de Direito.
Pertenço à primeira geração da Frelimo, cujos alvos a atingir eram a li­bertação de Moçambique da colonização portuguesa e a doação ao Povo Mo­çambicano de escolha livre de seus representantes.
Á conquista da independência nacional não seguiu a liberdade de escolher livremente os seus governantes. 0 que se seguiu foi a imposição de partido único e anulação de voto livre, o que não estava nos nossos planos. Estando insatisfeitos com a situação criada, fundou-se um partido a fim de trazer aquela liberdade de voto livre ao Povo Moçambicano. Aquele partido de opo­sição à imposição de votar livremente chamou-se Resistência Nacional de Moçambique ou seja Renamo. Este movimento lutou em condições mais desfavoráveis e mais longo do que a Frelimo contra Portugal. É graças a esta Re­sistência que o Povo Moçambicano, hoje em dia, pode votar livremente. Se o Sr. Mia Couto não aceita que a Renamo tinha a ideologia da antiga Frelimo, a de dar a liberdade de votar livremente ao Povo Moçambicano, não o posso ajudar.
Em todas as guerras quem escolhe os alvos a atacar não é o inimigo. É cada parte nela envolvida. Cada um ataca lá onde o inimigo não espera; lá onde lhe faz doer, para que capitule o mais depressa possível. Infelizmente em todas elas morrem mais civis do que os soldados, que tem armas e tácti­cas para se defenderem. Na maior parte dos que declaram a guerra, não mor­rem no campo de batalha nem envenenados em casa.
A Frelimo pegou em armas contra a governação portuguesa em Moçambique. Como consequência da guerra largou aquilo que considerava seu por direito natu­ral.
A Renamo agarrou em armas contra o governo da Frelimo. Depois de dezasseis anos de luta renhida aceitou o que a Renamo exigia. Voto livre ao Povo Mo­çambicano! Se isto não é resultado duma ideologia? Não o posso o ajudar.
Agora é a vez do Sr. Couto de assegurar também armas contra os criminosos e os que não respondem às suas fáceis perguntas. Isto o fará herói. Maior que Siba-Siba Macuácua; maior que Orlando José; maior que Carlos Cardoso; maior que todos os que foram fuzilados em defesa de Moçambique de Direitos; maior que todos aqueles que aparecem nas suas obras literárias.
Mas retirar-se como se fosse uma mulher, que não tem forças para atacar nem para se defender devidamente; excluir-se para o silêncio por causa de temer ser herói; não ser herói nem como os da Frelimo, nem como os da Renamo. Chamar a toda esta cobardia uma guerra silenciosa, é viver na ilusão ou não ter nojo de mentir, Sr. Mia!...
Como difiro fundamentalmente do Sr. Mia Couto, vou definir o que quer di­zer guerra internacional ou guerra entre nações. O que quer dizer guerra civil ou guerra entre cidadãos da mesma nação, para provar que a guerra da Renamo contra a Frelimo foi uma verdadeira guerra civil e não uma guerra num certo sentido, uma guerra no sentido analógico, uma guerra não exacta­mente guerra, uma guerra que existe apenas na mente do cogitador; uma guer­ra que ainda não existe na realidade para lhe dar o nome apropriado. Para provar que aquilo que ele chama verdadeira guerra é uma falsidade,
1) 0 que é uma guerra? No sentido geral e propriamente dito, a guerra é uma luta de multidões armadas contra outras multidões armadas de pes­soas a fim de resolver fisicamente uma contenda.
2) Chama-se guerra internacional ou entre nações, se aquelas multidões armadas forem de diferentes nações contra uma a outra por razoes terri­toriais.
3) Chama-se guerra civil se aquelas multidões armadas contraentes fo­rem constituídas por cidadãos da mesma nação por razoes políticas.
Assim, a guerra da Frelimo contra Portugal foi uma guerra entre nações. A guerra da nação ocupada contra a nação ocupante, embora, politicamente, Moçambique não fosse reconhecida como uma nação independente. Foi uma guer­ra de cidadãos de um país contra cidadãos de um outro país.
4) Chama-se multidão o ajuntamento de pessoas. Numa guerra não é neces­sário que este ajuntamento de pessoas esteja fisicamente no mesmo lugar. Basta que a sua ideologia seja a mesma e junta.
I) Em Moçambique não temos guerra civil, como o Sr. Mia Couto afirma. Com efeito, conforme acabámos de ver na definição e nos argumentos que seguiram, o Sr. Mia Couto afirma que são grupos de civis que atacam sis­tematicamente outros grupos de civis sem que estes últimos se defendam.
Ora a guerra consiste exactamente em um grupo armado atacar outro grupo também armado que se defende fisicamente. Portanto, como o outro grupo não se defende, não está armado, aceita o mal infligido silenciosamente, etc. não há luta, não há guerra em Moçambique. 0 que existe é olho por nada e dente por nada em vez de olho por olho e dente por dente.
II) A guerra da Renamo contra a Frelimo foi uma verdadeira guerra civil. Na verdade, do lado da Renamo havia multidões de soldados que lu­tavam contra multidões de soldados da Frelimo, sendo os Renamistas e Frelimistas cidadãos do mesmo país. O motivo era politico. Uma multidão guerreava pela conservação de partido único, candidato único, não livre voto ao Povo Moçambicano, enquanto outros guerreava por vários partidos, vários candidatos, voto livre ao Povo Moçambicano. Portanto, a guerra da Renamo contra a Frelimo foi uma guerra civil no seu próprio sentido.
III) Aquilo que o Sr. Mia Couto chama guerra silenciosa mas mortal, não é guerra nenhuma, pois faltam aí elementos essenciais para que se chame guerra propriamente dita. É uma metáfora.
IV) Afirmar que foi um conflito importado de fora (sem concretizar de fora, de que país) é uma evasiva que prova que o Sr. Mia Couto não pode provar. Ê uma afirmação da praça. Uma afirmação não séria.
0 que é certo, a Renamo nunca teve nas suas fileiras nem soldados nem ideologias importados de fora como a Frelimo. Ela lutou para a rea­lização completa daquilo que a Frelimo não queria complementar depois da independência. Para o voto livre do Povo Moçambicano.
V) Quem derrubou o regime de Ceauçescu na Roménia, em 1989, foram o poeta Nircea Dinescu com as suas poesias melancólicas, que verdadeiramente mobi­lizava o Povo Romeno e o padre Láslò Tuke com os seus sermões nacionalis­tas. Quem expulsou do poder o general Musharaf, no Paquistão, foi a Ordem dos Advogados por meio de demonstrações diárias que duraram sete semanas. Em ambas estas terras houve diariamente mortos e feridos do lado dos manifestantes. Ninguém temia morrer pela felicidade daqueles que sobreviveriam. Tan­to no primeiro como no segundo país os protestantes não se refugiaram na confortabilidade de silencio, que o Sr. Mia Couto chama orgulhosamente uma verdadeira guerra civil, enquanto é uma autentica cobardia. As duas Alemanhas atingiram a sua reunificação por causa de reuniões semanais em Leipzig e marchas silenciosas. Elas duraram onze meses.
Em todos estes três países houve guerras morais contra os governantes. En­quanto a Polícia de Intervenção nos dois primeiros países matou centenas e centenas de manifestantes, na Alemanha Oriental não matou ninguém.
Mesmo se com a sua guerra de cobardes conseguir comover os governantes moçambicanos a ponto de levá-los a eliminar todos os criminosos civis, não dará ao Povo Moçambicano um benefício maior do que aquele que a Renamo lhe concedeu. A liberdade de votar livremente. Este é o meu primeiro desafio ao Sr. Mia Couto.
VI) Os criminosos não querem mandar em Moçambique, como afirma o Sr. Mia Couto. Querem que no País não haja a ordem estabelecida pela Lei, para que se movimentem livremente. Pois, se o governo actual capitulasse diante des­tes monstruosos assassinos e protestos, não apareceriam para governar. Este é o meu segundo desafio ao mesmo.
VII) Ora bem. Se “A guerra com a Renamo foi um conflito importado de fora em que forças militarizadas elegeram quase sempre alvos civis escolhidos sem claro critério político ou ideológico” - qual é a ideologia dos estrange­iros feitos moçambicanos, quando também atacam sistematicamente civis? Que­rem governar Moçambique com a ideologia de matar civis?
VIII) Finalmente, a guerra do Sr. Mia Couto nem merece escrevê-la entre » « aspas por a parte do Sr. Couto carecer de consistência.
António Zengazenga – Alemanha (10.09.2010)

1 comentário:

Anónimo disse...

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