quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Frederik de Klerk ... o perigo do comunismo

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XIPALAPALA, por João de Sousa

O antigo presidente da África do Sul Frederik de Klerk continua a ser crítico em relação às estratégias definidas pelo ANC no que ao desen­volvimento económico e social diz respeito. Não só ele como também alguns dos mais influentes responsáveis da Aliança Tri-Partida. Uns utilizam a forma mais subtil de crítica. De Klerk vai directo ao assunto.
As atenções do antigo presidente centram-se agora em alguns princípios definidos pela recente Conferência Política do partido no poder, que pre­coniza uma “transformação económica baseada na reforma agrária e no desenvolvimento do sector mineiro”. A este processo o ANC chama de “revolução democrática nacional”.
Frederik de Klerk considera que se estes ob­jectivos forem postos em prática “então esta re­volução democrática vai transformar a África do Sul num estado comunista”. E isso, adianta o antigo presidente, é perigoso. Ele considera que toda esta retórica que está a ser utilizada pode vir a aumentar o nível de hostilidade no seio da comunidade branca.
Quer queiramos quer não é esta comunidade a detentora da musculatura económica deste país. A criação do BEE (Black Economic Empowerment) era tida como um passo importante para reverter a si­tuação e “dar aos negros a parte que lhes cabe por direito próprio neste processo histórico”. Só que o BEE acabou por virar um elefante branco.
De Klerk considera que a era da reconciliação, iniciada por Nelson Mandela e continuada por Thabo Mbeky, é coisa do passado” e acrescenta que para combater os males que fustigam o país no seu dia-a-dia, caracterizados pelo desemprego, desigualdades sociais e pobreza, “todos devem lutar, independentemente da cor e da raça, porque só assim estaremos preparados para garantir um futuro melhor”.
O último parágrafo deste discurso de Frederik de Klerk não deixa de ser significativo: “escolham o partido que esteja mais próximo das vossas próprias convicções”.
De Klerk e a Educação
O antigo presidente sul-africano não poupa críticas ao sistema de ensino, numa altura em que faltam livros na província do Limpopo, especial­mente para a instrução primária, o que levou várias organizações da sociedade civil e partidos políticos da oposição a exigirem a demissão da Ministra da Educação Básica, Angie Motshekga.
O Presidente Jacob Zuma reagiu afirmando que não vai tomar medidas precipitadas, porque é importante saber quais vão ser os resultados da investigação, já iniciada, e que está a cargo de três equipas especializadas, sendo que uma delas foi indicada pelo Chefe do Estado sul-africano.
A primeira acção está a ser desenvolvida junto da editora EduSolutions, que fornece livros esco­lares para quatro direcções provinciais de Educa­ção.
Uma das principais questões que o Departa­mento de Investigação pretende saber relaciona-se com a forma como foi estabelecido o contrato para a produção do livro escolar na província do Lim­popo. A investigação recai também sobre Sahun o fundador da EduSolutions, que ale­gadamente terá transferido milhões de randes (não se diz quantos) da África do Sul para o Dubai, o que no dizer de Sahun Battleman não corresponde à verdade. Os resultados desta investigação serão entregues ao Presidente Jacob Zuma daqui a duas semanas.
Frederik de Klerk considera o ensino sul-africano um problema sério. Refere-se a uma educação “pobre e sem qualidade”. E sem qualidade, diz ele, não há democracia e muito menos estabilidade política.
Números e deficiências
A Educação absorve do Orçamento Geral do Es­tado no período 2012/2013 um valor considerável: 207 biliões de randes. Um estudo recente do Fó­rum Económico Mundial revela que a educação na África do Sul está colocada na centésima trigésima terceira posição, num conjunto de 141 países.
Os maiores problemas colocam-se no ensino primário, sendo que as principais deficiências são apresentadas pelos alunos que frequentam a ter­ceira e a sexta classes.
Em muitos casos apontados, alunos há que não sabem escrever nem contar. Este problema, de acordo com uma análise feita pela Comissão Nacional do Plano, deriva do facto de haver professores não qualificados a leccionarem em escolas públicas, principalmente as que se situam nas zonas periférifas das grandes cidades sul-africanas. Acrescente-se um outro pormenor: os professores nas escolas primárias onde os estudantes são maioritariamente negros leccionam apenas três horas e meia por dia, enquanto nas escolas onde a maioria é branca esse nível sobe para seis horas e meia por dia.
CORREIO DA MANHÃ – 08.08.2012

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