quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Os livros da discórdia

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Professores e encarregados de educação divergem quanto aos manuais a seguir
Por Salane Muchanga (texto) e
Naita Ussene (fotos)
A autorização pelo Ministério da Educação há poucos anos de as editoras privadas poderem elaborar e comercializar o livro do aluno, está a criar problemas para os encarregados de educação. Em causa está o facto de alguns professores do ensino secundário “obrigarem” os alunos a comprar manuais de algumas editoras cujo preço chega a ser o dobro do valor dos livros da mesma disciplina em outras editoras. Os directores de escola atiram a responsabilidade ao ministério de tutela, que por sua vez, reconhece haver lacunas no processo, mas promete soluções a curto prazo.
O SAVANA falou com uma mãe revoltada que não quis se identificar, temendo represálias para o filho na escola. Não compreende o porquê deve pagar 190 meticais a mais por um livro de Educação Visual da 8ª classe. Isto porque o pro­fessor do filho recomendou a compra do manual numa editora onde custa 420 meticais, enquanto o mesmo é comercializado a 230 meticais noutras editoras.
“Sou obrigada a comprar novos livros e como se não bastasse, a preço elevado. Com a diferença do preço, entre uma editora e outra, compraria mais um livro para o meu filho estudar”, refere.
Esta situação, que deixa os encarregados a pensar que os professores estão a fazer negócio com as editoras, verifica-se em várias escolas, quer públicas, quer privadas, da cidade de Maputo.
A mãe conta que comprou três livros da antiga instituição pública produtora e distri­buidora de material escolar, Diname. Porém, para o seu espanto, o filho não acom­panha as aulas de Português, Inglês, e Educação Visual, porque o professor usa outros manuais.
Segundo a mãe, o professor alega que estes livros espe­lham melhor os conteúdos do novo currículo escolar.
O problema é geral e, vários são os encarregados de educação que compram livros para os filhos, mas que na sala de aula não têm utilidade, pois o professor decide qual a editora que os educandos devem adquirir o manual.
Responsabilidade do mi­nistério
Os directores de escolas reconhecem haver este pro­blema, sobretudo, nas disci­plinas de Inglês e Português, mas atiram a responsa­bilidade ao Ministério da Educação.
Orlando Dima, director da Escola Secundária Francisco Manyanga, entende que, para evitar constrangimentos, os encarregados de educação devem esperar a orientação do professor para comprar o livro “porque nos últimos anos há várias editoras autorizadas pelo ministério que vendem os livros e cada com diversas versões embora o conteúdo seja semelhante”.
“Nós como direcção não podemos definir a editora que o professor deve escolher, cabe a ele seleccionar, “o­bservou Dima.
Todavia, Dima é de opinião de que a ideia de existência de várias editoras a produzir e a comercializar o livro do aluno é positiva “porque fornece opção de escolha. Havendo concorrência, as editoras vão trabalhar no sentido de produzir livros com mais qualidade”.
Mais a opção de escolha obriga aos pais a andar de uma editora à outra. Por exemplo, o livro de Inglês da 8ª classe custa na editora Longman, 242 meticais, na Diname, 265, e na Plural, 370.
As lacunas
Manuel Rego, director de Planificação e Cooperação do Ministério de Educação, explica que a sua instituição não adopta um livro para cada disciplina.
“Primeiro porque o ensino secundário não é gratuito, segundo porque temos que promover o sector privado”.
O que o ministério garante é que os livros produzidos estejam de acordo com o programa de ensino.
No entanto, há livros desactualizados a venda.
Nelson César, professor de Geografia e História no Liceu Polana, apela aos seus alunos a comprar o manual numa das editoras privadas e explica porquê: O livro de Geografia da 11ª classe com o título A Terra, Processos e Fenómenos não apresenta o capítulo Cosmografia, que é um dos temas presentes no novo currículo.
“Este manual, embora aborde outros conteúdos, já está desactualizado, por isso, recomendo aos meus alunos a adquirir outro. Os manuais de outras editoras são tam­bém bons, o aluno pode comprar como auxiliar, mas não para acompanhar a aula na sala”, explica.
O professor de Inglês da mesma escola, António Alfre­do, prefere uma editora diferente à do colega. Para ele, o livro deve estar bem estruturado e com uma se­quência lógica dos conteúdos.
“Seleccionei os livros porque apresentam gravuras nítidas que permitem uma melhor interpretação assim como vários exercícios”, explica Alfredo.
Rego entende que as reclamações dos encarre­gados de educação, de haver grande diferença do preço do livro para a mesma classe e disciplina, são justas, mas “essa é a regra do mercado e, é difícil para o ministério impor regras numa área em que o ensino não é gratuito”.
Contudo, reconhece que ainda há lacunas e assuntos pendentes quanto à definição do livro.
“Tenho que reconhecer que o assunto está a ser liberal de mais. Falta regularizar um pouco mais este processo e, espero que, até finais deste ano, aprove-se a política do livro que será implementada próximo ano ”, disse Rego.
Para ele, o importante é que deve haver comunicação entre a escola e os en­carregados de educação.
Para minimizar a situação, o ministério, na voz de Rego, diz que, nos últimos dois anos, colocou mais livros nas bibliotecas das escolas pú­blicas para permitir que o aluno que não tem recursos para comprar o livro, possa fazer consulta e leitura de manuais, embora reconheça a existência de escolas que não têm bibliotecas e outras que não funcionam.
SAVANA – 19.03.201

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