segunda-feira, 27 de agosto de 2012

PRM recorre à INTERPOL

PRM recorre à INTERPOL
Escrito por Carlos   
Segunda, 27 Agosto 2012 14:08
-Danish Satar, 23 anos de idade, o homem mais procurado pela Polícia, é sobrinho de Nini Satar  e está em Dubai, depois  de ter passado por Paquistão

-Alta patente da PRM diz que há oficiais da Polícia ligados aos raptos e os presumíveis raptores detidos são peões num xadrez complexo
A Polícia da República de Moçambique (PRM) acaba de solicitar os préstimos da Polícia Internacional (INTERPOL) para localizar Danish Satar, identificado como sendo o intermediário entre os autores morais e o grupo de supostos raptores detidos a semana passada em Maputo. Sobrinho de Nini Satar, o jovem Danish Satar, 23 anos,  deixou Maputo a 16 de Julho com destino a Dubai, curiosamente um dia depois da Polícia moçambicana deitar a mão a sete indivíduos suspeitos de serem autores materiais dos raptos seguidos de resgates milionários.
Fontes policiais disseram ao SAVANA que Danish Satar é peça chave para a localização dos autores morais dos sequestros, que operam a partir de Dubai e Paquistão.
Os investigadores da Polícia acreditam que um dos cérebros dos sequestros é Aslam Satar, pai de Danish que actualmente encontra-se em Dubai, após defraudar o extinto Banco Comercial de Moçambique (BCM) em USD14 milhões.
“As nossas investigações apontam que o jovem é a ponte principal entre os supostos executores dos raptos com os mandantes”, disseram. 
Uma alta patente da PRM disse que nos interrogatórios que a polícia tem vindo a fazer aos detidos, Danish Satar é o nome mais referenciado como o mandante dos crimes. Satar, segundo os detidos, foi nos últimos meses, a pessoa que identificava e negociava os preços por pagar pelas vítimas, bem como as ordens de soltura.  A Polícia fez buscas na residência de Danish, no luxuoso bairro de Sommerschield, próximo do jardim dos cronistas. Na casa apreendeu apenas duas viaturas de luxo, uma delas pertecentes ao cunhado de Danish.
Esta semana, a Polícia reafirmou que estava na posse dos nomes dos mandantes dos raptos, mas reiterou ser prematuro divulgar suas identidades para não atrapalhar as investigações.
Outro suposto cabecilha dos executores, identificado pelo nome de Daniel Arão, “o angolano” disse que o principal mandante é um cidadão de origem indiana, auxiliado por um grupo de dois a quatro comparsas.
De acordo com o angolano, o referido cidadão que reside em Maputo, escolhia a dedo as suas vítimas, cabendo-lhe também a prerrogativa de estabelecer os montantes do resgate, bem como o pagamento aos raptores em valores que variavam entre 150 a 200 mil meticais. Questionado pelos jornalistas, Angolano confessou que conhecia todos os seus colegas.
O SAVANA sabe que o rapto que culminou com a neutralização dos sete indivíduos foi da iniciativa dos suspeitos ora detidos, de tal forma que o dinheiro em causa não obedeceu nenhum circuito bancário e foi entregue em numerário.
A nossa fonte revelou que a operação que culminou com o sequestro de Samir Nisher e Ninito (parentes do empresário Magid Osman), no passado dia 03 de Julho na Matola, foi encabeçado e coordenado pela quadrilha ora detida.
“Cada vez que estes executavam as operações iam se apercebendo que o negócio é rentável e decidiram avançar à revelia das chefias. Foi uma operação que envolveu dinheiro vivo e como houve colaboração da família dos raptados, montámos um chip na mala de dinheiro, o que facilitou a captura dos bandidos”.         

Ligações com Nini Satar
Danish Satar, 23 anos de idade, é filho de Asslam Satar, irmão mais velho de Nini.
Asslam Satar fugiu do país em finais da década 90, depois de ter liderado com sucesso o rombo de 144 biliões de meticais (antiga família) no extinto BCM. O desfalque de 144 biliões de meticais teve como um dos cérebros o então gerente do balcão de Sommershield, Vicente Ramaya.
Consta que a par de Rachida Abdul Satar e Sheila Adão Issufo (irmã e esposa de Nini Satar) Danish Satar era um dos “ponta de lança” dos negócios de Nini Satar.
A partir das celas da BO na Machava, Nini Satar mantinha relações regulares e movimentava os seus negócios cá fora, usando os seus familiares. Com o apoio da irmã,  Nini Satar movimentava a empresa Remix Property, uma firma com  interesses nas áreas de mediação imobiliária, assessoria e consultoria jurídica, projectos de arquitectura e construção civil. Mais tarde, a empresa foi vendida ao cidadão Zainur Abedin Mahomadiquebal. Antes da venda era detida por Rachida Satar e Danish Abdul Satar.

No segundo semestre de 2011, a família Satar rematou em hasta pública, um imóvel da “Modas Niza”, grupo comercial cujos bens foram  penhorados e colocados publicamente à venda pela primeira secção do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo, para o pagamento de uma dívida à mCel (operadora pública de telefonia móvel) no valor de 270 milhões de meticais.
O imóvel situado no largo João Albasini, bairro do Alto Maé, Cidade de Maputo, custou cerca USD300 mil. No registo de 29 de Setembro de 2011, a Nova NIZA era detida por Danish Satar. Mas no registo de 11 de Outubro do mesmo ano a firma aparece sem a descrição dos sócios.

Executores nas mãos da Polícia
Esta semana, num espectáculo sem paralelo, a polícia apresentou aos jornalistas, os lugares onde os raptores mantinham as vítimas sob cativeiro e  mostrou a frota de 22 viaturas, supostamente adquiridas com o dinheiro dos resgates e ainda um total de 14 telefones celulares.
Três das quatro casas visitadas situam-se em Tchonissa, no bairro Filipe Samuel Magaia, distrito de Boane, as outras em Mahlampsene e Matola, na província de Maputo.
Na lista dos detidos está uma mulher e um jovem, Ilídio Rafael Manicua, filho de Rafael Manicua, oficial sénior da PRM na área da logística.  
Falando aos jornalistas, o filho do oficial da PRM negou o seu envolvimento, frisando que apenas foi contactado pelo Angolano para o transportar as vítimas de um para outro cativeiro. Por esse frete, segundo Manicua, Angolano pagou-lhe 50 mil meticais.
A maioria dos detidos são cadastrados e estavam em liberdade condicional, por bom comportamento.
Um dos detidos chama-se Madalane, um pugilista também em liberdade condicional  depois de ter cumprido a metade dos 20 anos de prisão a que fora condenado. Madalane foi julgado e condenado em 1999 pelo Tribunal Judicial da Cidade de Maputo no caso de assassinato de Lima Félix, um cidadão português que exercia as funções de director do BIM (Banco Internacional de Moçambique). 
Durante o tempo em que permaneceu  nas celas da BO, Madalane fez trabalhos para Vicente Ramaya.

Espectáculo gratuíto
Na passada segunda-feira, a Polícia apresentou os sete presumíveis operativos dos sequestros, um exercício classificado em vários sectores como um “espectáculo gratuíto”.
O jurista e quadro sénior da PRM, António Frangoulis, diz que a presunção de inocência é um direito constitucionalmente previsto porém, ainda não há uma lei ordinária que regula a matéria em alusão. Isso abre espaço para que cada uma das pessoas interprete o dispositivo a sua maneira.
Frangoulis referiu que a lei constitucional é abstracta e não define quando é que um detido deve ser apresentado publicamente ou não pela polícia.
“Da forma como as coisas estão, faz com que a presunção de inocência sirva apenas para pessoas poderosas e com capacidade de contratar grandes advogados. Para os pobres, este princípio não serve. Há necessidade urgente de se ajustar o dispositivo”, frisou.
Falando concretamente da apresentação pública dos supostos operativos dos sequestros, António Frangoulis referiu que a corporação agiu de forma emotiva e condenou a atitude.
Entende o jurista que para um crime daquela envergadura em que se presume que haja mais gente poderosa envolvida, há necessidade de haver muita prudência na investigação. Ele considera que para além de violar os direitos fundamentais e de personalidade daqueles indivíduos, houve queima de algumas pistas que lavariam à busca da verdade.
Diz Frangoulis que a investigação de um crime é uma tarefa complexa e altamente técnica pelo que é incompatível com actos de populismo e sensacionalismo.
De acordo com o nosso interlocutor, o facto da Polícia ter exibido as caras daqueles indivíduos pode abrir espaço para que os verdadeiros mandantes encontrem formas de queimar as provas e continuarem impunes.
Lembrou também que já houve o registo de tantos casos em que perigosos cadastrados e com alta influência nas altas patentes da Polícia foram eliminados sem que se tivesse dito quem eram os seus mandantes ou protectores.
“São os casos de Agostinho Chaúque, Todindo, Mandongas que todo o mundo sabia que agiam em coordenação com os estrategas da Polícia, mas em nenhum momento foram deixados se pronunciar. Quem nos garante que o mesmo não sucederá com estes últimos”, indagou.

PRM pressionada  
O Sheik Abdul Carimo Issa, vice-presidente da Associação Islâmica de Moçambique elogiou o trabalho da Polícia por ter respondido a pressão pública e conseguir descobrir e imobilizar o grupo que aterroriza o país nos últimos sete meses.
Segundo aquele líder religioso, o gesto da corporação representa um passo para o esclarecimento deste episódio. “A Polícia disse que aqueles indivíduos eram apenas os executores, ainda faltam mandantes. É preciso que traga os mandantes à sociedade, disse.
Questionado se a apresentação dos raptores não podia perturbar as investigações e consequentemente ensombrar a busca da verdade, Abdul Carimo referiu que a Polícia é uma entidade responsável e que conhece o trabalho que faz, pelo que tudo depende da estratégia que a mesma montou para a descoberta da verdade.
“Mesmo assim, há que reconhecer que a Polícia  estava pressionada e tinha que responder a pressão”, disse.

Busca de credibilidade
O bastonário da Ordem dos Advogados de Moçambique (OAM), Gilberto Correia, referiu que a detenção representa um avanço significativo rumo ao esclarecimento do caso dos sequestros. Para Correia, o mais importante  é que a Polícia consiga trazer os mandantes para que sejam exemplarmente  punidos em caso de se provar o seu envolvimento.
O bastonário da OAM reconhece que nos últimos dias, a Polícia era alvo de duras críticas devido a sua apatia em relação aos raptos.
Perante esta pressão, a corporação viu-se obrigada a mostrar  trabalho. Contudo, este facto peca por não ter observado os direitos fundamentais do cidadão, constitucionalmente preceituados.
Gilberto Correia não vê a exibição dos supostos raptores como podendo perturbar as investigações e fechar as pistas visando à busca da verdade.  E.I.

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